Artigo - Por Auris Martins

O estrangulamento como fronteira cíclica para as mudanças sociais e econômicas

Houve um estrangulamento recente na sociedade brasileira, que motivou profundas mudanças sociais e nos rumos da economia

Auris Martins de Oliveira. professor do Curso de Ciências Contábeis da UERN

Nossa intenção aqui é discorrer sobre o estrangulamento como fronteira cíclica para as mudanças sociais e econômicas. Usaremos como base alguns diálogos da disciplina Economia Brasileira sob a responsabilidade do Prof. Dr. Fernando Maccari Lara, em experiência no doutorado em Ciências Contábeis da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, Escola de Gestão e Negócios, campus de Porto Alegre-RS.

Essencialmente só existem duas classes. As subdivisões de classes que foram criadas é para que aquele que não é rico, pense que é. Existem os ricos e o restante da população. Ricos não se incluem aqueles empregados do setor privado que são gerentes e possuem um salário maior que seus subalternos. Também não se incluem os pequenos empresários que pelo fato serem patrões se enquadrariam na condição de ricos. Muito distante ainda dos ricos estão aqueles servidores públicos que galgaram um salário um pouco maior que seus pares.

Houve um estrangulamento recente na sociedade brasileira, que motivou profundas mudanças sociais e nos rumos da economia. “Empregada doméstica estava indo para a Disney, uma festa danada”, nas palavras do Ministro da Economia Paulo Guedes. O filho de um agricultor conseguia a graduação em medicina. As pessoas simples e humildes puderam minimamente ter acesso ao consumo. O filho do pobre pôde entrar na universidade e se revoltar contra o sistema posto. Mas, aconteceu um estrangulamento porque a elite, a elite mesmo, não suporta conviver de forma rotineira com este povo nos aeroportos, com seus filhos estudando 5 (cinco) anos na faculdade federal com o filho de uma moradora da favela.

Foi necessário uma ruptura abrupta contra este estado de coisas, de um Brasil socialmente justo ou buscando isto. A elite, e aqueles que se acham elite, não gostam de dividir os seus espaços com todo mundo. Assistir um ensaio de distribuição de renda foi demais. O limite do tolerável da elite tinha sido ultrapassado. Não era possível a aproximação daquele que antes era um pobre e que, de repente, passou a ocupar espaços que só pertenciam (em tese) aos ricos.

Alguns servidores públicos com salário um pouco maior que seus pares apoiaram a revolta da elite, que não suportava ver pobre misturado com rico, pelo menos em alguns ambientes. Hoje estão em pânico com a reforma da previdência, e sem dormir com a reforma administrativa que está por vir. Pequenos empresários que assinam a carteira de meia dúzia de funcionários também defenderam a revolta da elite. Sem consumo interno, muitos estão à beira de um ataque de nervos. Empregados da inciativa privada, com salários altos, que foram descartados no momento atual e hoje se viram como motorista de aplicativo, também apoiaram a revolta da elite, da verdadeira elite.

A nossa elite nunca pôde, nem pode suportar ver continuamente nos pontos turísticos no Brasil e no exterior gente simples batendo fotos e disputando os mesmos espaços tradicionais, por exemplo como restaurantes, lojas etc. Isso incomodou bastante, e gerou um estrangulamento, necessidade urgente de um basta.

A nossa elite nunca pôde, nem pode suportar ver continuamente nos pontos turísticos no Brasil e no exterior gente simples batendo fotos e disputando os mesmos espaços tradicionais, por exemplo como restaurantes, lojas etc. Isso incomodou bastante, e gerou um estrangulamento, necessidade urgente de um basta.

Hoje, nos dias atuais, esse estrangulamento agora está na outra ponta. A alta do dólar, o desemprego recorde, a crise sanitária com mais de 300 mil mortos no maior colapso da história do sistema de saúde, público e privado, a volta da inflação, falência de empresas, fuga de capitais, perda de direitos trabalhistas no setor público e privado, toda sorte de descomando político e de gestão pública acabaram por eclodir um novo estrangulamento. Desta vez do lado dos menos favorecidos. O basta agora é da maioria da população que também possui uma tolerância mensurável.

Nada portanto é para sempre, nas realidades sociais e econômicas, onde a história explica a luta de interesses desde o Brasil Colônia; batalha esta que perdura de forma ininterrupta na sociedade brasileira. Os ricos e maioria da população buscam seus espaços, uns conscientemente e outros por puro instinto de sobrevivência. Os conflitos de interesses já estão postos, e não tem mais como prosseguir por muito tempo com a queda radical nos indicadores sociais, e aumento assustador nos índices de desemprego, só para citar um exemplo. O ciclo se perpetua, e o novo estrangulamento já chegou. É cíclico, repetimos, novas mudanças estão por acontecer mais breve do que se imagina. A ampla maioria da população brasileira, os menos favorecidos por assim dizer, não suportam mais. O limite já foi duramente extrapolado.