Perspectivas

Como o bolsonarismo vem entrando em colapso no RN?

Sabe-se que o bolsonarismo derrete em todo o país. A pressão vem de todos os lados. E repercute também no Estado. Mesmo assim, os ministros potiguares pensam que serão reconhecidos nas urnas no ano que vem

Por William Robson

Não vamos nem incluir o General Girão neste momento. Sabe-se que o bolsonarismo derrete em todo o país. A pressão vem de todos os lados. CPI da Covid, quedas sucessivas de popularidade, denúncias de corrupção para compra de vacinas… A lista segue e continua contando. Bolsonaro tem sentido este efeito. Seu corpo também responde negativamente ao encalço. Mas, não perde a oportunidade de tirar proveito político até mesmo quando está hospitalizado.

Este não é o tema em destaque. Embora, tenha forte conexões. O RN não é exatamente reduto bolsonarista. Longe de ser. Aqui, Bolsonaro e corriola não se cria. Apanha nas urnas em todos os sentidos. Porém, de defenestrado, o ex-deputado federal Rogério Marinho foi exumado pelo presidente na qualidade de ministro do Desenvolvimento Regional. Fábio Faria, escorregadio de ocasião quando se fala de poder, também se aninha no ambiente bolsonaristas, no Ministério das Comunicações. Ambos são os ministros potiguares que agora tentam o reconhecimento do potiguar  (que acreditam merecer) para as eleições do ano que vem.

Marinho, quando afirmou que vai tentar o Senado e que vai lançar Benes como candidato ao Governo

Ambos vivem em universo paralelo. Marinho disse que sua missão é defender o legado do presidente no Estado. Não sabemos qual, mas ele tratou disso em entrevista à uma emissora de rádio de Natal. E pretende fazer no Senado. “Essa possibilidade está no meu radar”, disse ao jornalista Diógenes Dantas. Faria se coloca como porta-voz do presidente, supondo que tal prática repercute em capital eleitoral no Estado.

É aí que começa a cisão bolsonarista. Fábio Faria quer o mesmo espaço, embora perceba Marinho bem adiantado. Inclusive, Faria vê o ministro do Desenvolvimento Regional ir mais além. Pensa no Senado, mas já pavimenta o caminho para o o deputado federal Benes Leocádio (Republicanos) para o Governo, numa disputa difícil contra a governadora Fátima Bezerra.

Faria sequer foi consultado. Aliás, tem poucos apoios até aqui. O presidente da Assembleia Legislativa Ezequiel Ferreira de Souza e o prefeito de Natal Álvaro Dias, ambos do PSDB, já haviam declarado apoio a uma eventual candidatura ao Senado de Marinho. E, cada vez mais escanteado, resolveu partir para a briga dividindo o grupo que já não anda tão bem no RN.

Segundo informou o jornalista Bruno Barreto, da Agência Moscow, Fábio prepara o o contra-ataque com outra chapa tendo ele para o Senado e o prefeito de Ceará-Mirim Júlio César (PSD) como candidato a governador. “Este já estaria consultando alguns colegas buscando apoio”, afirmou o jornalista. Nada ainda realmente definitivo.

Marinho e Fábio Faria, em reunião: Faria diz que não há qualquer racha

Fábio Faria está incomodado. No entanto, garante não haver qualquer entrevero com Marinho.  “Quem quiser apostar qualquer coisa entre mim e o Ministro Rogerio Marinho, pode apostar em resultado, entendimento”, afirmou.

Isso porque Faria, cada vez mais distante do RN, visto que sua vida deslocou-se para a ponte São Paulo-Brasília, tenta se viabilizar na chapa de Bolsonaro, como vice-presidente. Bolsonaro ainda não deu nenhum sinal público de que isso será possível ou cogitado.

Tateando espaço, seja no RN, no bolsonarismo ou como áulico-mor do presidente, Fábio Faria entra em embate com Rogério Marinho, que come pelas beiradas, se reúne com dezenas de prefeitos, ajusta repasse de verbas via Codevasf, acreditando ser suficiente para garantir a vaga que hoje pertence a Jean-Paul Prates. Ah, enquanto Faria e Marinho brigam pela candidatura ao Senado, o colapso pode até contribuir para Jean na difícil missão de se viabilizar para a reeleição em 2022. Quem sabe, este racha não contribui?

 

Arte sobre imagem principal: Cláudio Palheta/Blog do Barreto