Escândalo no Planalto

Como o “Bolsolão” ou “Tratoraço” envolve Rogério Marinho e o RN?

A pasta de Marinho criou orçamento secreto pelo qual deputados e senadores da base de apoio do governo receberam aproximadamente R$ 3 bilhões em emendas. Entenda

Por William Robson

A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) foi uma estatal criada no tempo da ditadura militar, nos anos 70. O objetivo seria desenvolver as áreas às margens do Velho Chico. No entanto, tem servido de escoadouro de verbas públicas para atender a interesses de parlamentares do chamado “Centrão”.

Para isso, Bolsonaro ampliou a jurisdição da Codevasf. O rio São Francisco “precisou passar” também pelo Amapá. Pelo menos, mil novos municípios foram incluidos em sua área de atuação, muitos deles localizados a 1.500 quilômetros de distância do rio. Tudo muito estranho, até o jornal O Estado de S. Paulo revelar o que está por trás desta expansão tão célere.

Bolsonaro está envolvido em escândalo de orçamento secreto e compra superfaturada de tratores a partir de emendas concedidas a parlamentares alinhados

O presidente Jair Bolsonaro capitaneia um esquema de inflar a Codevasf com o orçamento secreto de R$ 3 bilhões. Ao menos, um terço deste valor seria aplicado por políticos do Centrão, que controlam a companhia. Além disso, parte dos recursos é destinada para a compra de tratores e equipamentos agrícolas superfaturados. Aí vem a questão: o que o ministro Rogério Marinho tem a ver com isso?

A Codevasf é ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, a pasta de Marinho. A rigor, a empresa está sob a sua batuta, embora o Centrão é quem faça a festa. No entanto, Marinho também dança, visto que o RN entrou na área de ampliação da Codevasf, e Natal ganhará um escritório da companhia.

Marinho tem projetos eleitorais no ano que vem. Pretende se candidatar a governador e enfrentar Fátima Bezerra. Não aparece bem nas pesquisas divulgadas até aqui, mas a prática do orçamento secreto para favorecer os aliados de Bolsonaro seria injeção importante em sua campanha. Claro que faria uso deste incentivo que veio por ordem direta de Bolsonaro, segundo o Estadão.

Como era e como está a área de abrangência da Codevasf, estatal para desenvolver áreas do rio São Francisco

Assim, a empresa que desenvolve as áreas do rio São Francisco se estendeu para o Amapá, a fim de acomodar também o senador Davi Alcolumbre (DEM), o citado Rogério Marinho (sem partido) e Wellington Roberto (PL), na Paraíba. O raio de abrangência cresceu muito no período de Bolsonaro. Avançou tanto que saiu dos 504 municípios na sua fundação para 2.675 atuais em 15 Estados. Bolsonaro foi quem mais estendeu a companhia e, claro, inflou o orçamento.  O RN entrou para a lista no ano passado, cobrindo todos os 167 municípios e projetando as perspectivas eleitorais de Marinho.

Outros ingressarão no clube, como Amazonas, Roraima e Sul de Minas, lugares, que como sabemos, o rio São Francisco passa longe. Tudo para salvar a pele de um presidente que definha em popularidade, em indicadores sociais e mediante a CPI da Covid.

De acordo com informações publicadas domingo (9) pelo jornal Estado de S.Paulo, a pasta de Marinho criou o  orçamento secreto para atender aos deputados e senadores da base de apoio do governo. Dos R$ 3 bilhões em emendas, a maior parte destinada à compra de equipamentos agrícolas por preços até 259% acima dos valores da tabela fixada pelo próprio governo.

É com este orçamento paralelo que Marinho e outros do Centrão querem contar para as eleições do ano que vem. A Agência Saiba Mais, que também repercutiu a reportagem do Estadão, disse que Marinho pode tentar se candidatar ao Senado com o apoio do presidente, caso não se viabilize ao Governo. Citou também que os recursos do orçamento secreto dificultam a fiscalização tanto pelo Tribunal de Contas da União como pela própria sociedade.

A expansão dos Estados, com destaque para o RN, que entrou na área de atuação da Codevasf em 2020

O escândalo já é comparado ao dos Anões do Orçamento, nos anos 90, e mostra a tentativa de Bolsonaro de controlar o Congresso a partir da compra de base de apoio, ao recorrer ao orçamento paralelo bilionário. “Quanto custa uma parcela do aluguel do Centrão?”, indaga a deputada federal Natália Bonavides. “E com os bilhões do orçamento 2021? Não tem dinheiro para o auxílio, mas tem para o Central”.

Marinho, por sua vez, nega o escândalo já amplamente divulgado como “Bolsolão” e “Tratoraço”. “São falsas as informações do Estadão que acusa o governo de ter criado um orçamento secreto. Basta analisar que parlamentares da oposição (PT, PCdoB e PDT) tiveram indicações contempladas. Inclusive o senador Humberto Costa (PT-PE)”, disse, sem negar o rateio do orçamento secreto.

Natural que a Codevasf atenda a interesse de um parlamentar de Pernambuco, berço do São Francisco,  e que não esteja servindo tão somente para distorções, aparelhamento e fisiologismo denunciados pelo Estadão.